A folha da coca é utilizada há 3 mil anos a.C. pelos incas, que mascavam a planta nos Andes com a intenção de fazer o coração bater mais rápido e acelerar a respiração para combater os efeitos de viver na montanha. Durante as cerimônias religiosas feitas pelos nativos peruanos, também era de costume mascar a folha.
Em 1859, o químico Albert Niemann sintetizou a cocaína pela primeira vez. Mas quando a substância ficou popular entre a comunidade médica, em 1880, não sabiam ao certo os efeitos danosos da droga. Muitas celebridades da época promoviam a cocaína por não conhecerem suas consequências físicas e psíquicas a longo prazo.
Na década de 70, a cocaína era uma exclusividade das classes mais altas. A situação mudou quando os fornecedores colombianos organizaram um contrabando de cocaína para os Estados Unidos e, desde então, a droga, que era apenas usada pelos mais ricos, tornou-se popular entre todas as classes sociais. Com isso, a reputação de droga mais perigosa e que causava mais dependência da América ficou ligada diretamente às pessoas pobres e criminosas. Até hoje, a cocaína é a segunda droga ilícita mais contrabandeada do mundo.
A substância age como estimulante do sistema nervoso central e, por isso, é capaz de causar diversos efeitos ao usuário. As pessoas que se tornam viciadas em cocaína (assim como pela maioria das outras drogas) perdem o interesse nas outras áreas da vida.
Em busca de “sensações novas” ou até mesmo para se refugiar dos problemas cotidianos, muitas pessoas começam a usar cocaína e seus subprodutos com a falsa ilusão de que isso irá ajudá-la de alguma forma. Mas as chances dessas drogas viciarem no primeiro uso é altíssima – e por isso representam uma grande ameaça para a saúde mental e física. Como os efeitos da cocaína e derivados surgem e vão embora rapidamente, os usuários costumam repetir com frequência o uso na “sede” de senti-los por mais tempo.
Quando o corpo começa a eliminar a droga do organismo, o indivíduo passa a demonstrar um comportamento depressivo. Na tentativa de aliviar a ansiedade e tristeza, ele se droga novamente. A sensação que o usuário vivencia pode ser “agradável” a ponto de fazê-lo usar a droga inúmeras vezes até acabar seu estoque e o dinheiro para comprá-la. Não é raro, por exemplo, ver casos de pessoas que vendem seus bens para adquirir drogas. Essa compulsão é chamada de “fissura”, capaz de dominar a pessoa.
O usuário de cocaína pode apresentar alterações comportamentais, físicas e psíquicas, como boca seca, nariz irritado, com coriza e resquícios da droga, além de alucinações e irritabilidade.
Quais são as causas da dependência da cocaína?
O prazer é a maior força motriz de muitos de nossos comportamentos e consumir cocaína é uma das formas fáceis de obtê-lo. Conforme a tolerância à droga vai aumentando, torna-se necessário usar cada vez quantidades maiores dela para conseguir a mesma resposta eufórica. Suprimir ou reduzir a droga causa uma depressão e motivar o comportamento para obter a droga.
O sistema de recompensa do cérebro, um enorme número de feixe de fibras e conexões nervosas que produz uma enorme sensação de prazer, é ativado pela cocaína. É por esta razão que o indivíduo é tentado a voltar a consumi-la, tornando-se, assim, dependente da cocaína.
Manifestações agudas
Quadros agudos de pânico, os transtornos depressivos e os psicóticos agudos são os mais relatados. O prognóstico dos indivíduos portadores de comorbidades é mais comprometido. Reduzir a droga causa uma depressão tão severa que a pessoa fará quase tudo para conseguir a droga – até mesmo cometer assassinato e/ou suicídio.
É possível ter overdose de cocaína ?
Dentre as complicações agudas relacionadas ao consumo de cocaína, a overdose é a mais conhecida e coloca a saúde em grande risco. Essa sobrecarga é definida como a falência de um ou mais órgãos e caracteriza-se por arritmias cardíacas, convulsões epilépticas generalizadas e depressão respiratória com asfixia. A reação depende do organismo de cada indivíduo e da pureza da substância, seu mecanismo de ação está relacionado ao excesso de estimulação cerebral.
A overdose de cocaína é uma emergência médica e por isso requer atenção imediata.
Principais complicações clínicas associadas ao consumo de cocaína:
• Aumento da frequência cardíaca
• Aumento da pressão sanguínea
• Aumento da temperatura corpórea
• Aumento da frequência respiratória
• Sudorese
• Broncopneumonias
• Hemorragia pulmonar
• Edema pulmonar
• Pneumomediastino
• Pneumotórax
• Asma
• Bronquite
• Bronquiolite obliterante
• Lesões térmicas
• Cefaléias
• Convulsões
• Acidente vascular cerebral
• Hemorragia intracraniana
• Hemorragia subaracnoidea
• Aumento do estado de vigília
• Euforia
• Sensação de bem-estar
• Autoconfiança elevada
• Aceleração do pensamento
• Dilatação da pupila (midríase)
• Salivação intensa e com textura grossa
• Contrações musculares involuntárias (língua e mandíbula)
• Dentes anestesiados
A dependência química da cocaína geralmente representa um impacto profundo em diversos aspectos da vida do indivíduo e também daqueles que estão ao seu redor. Dada a sua complexidade, é interessante que os programas de tratamento sejam multidisciplinares para atender às diversas necessidades do paciente (aspectos sociais, psicológicos, profissionais e espiritual), sendo mais eficaz na alteração dos padrões de comportamentos que o levam ao uso da substância, assim como seus processos cognitivos e funcionamento social.
O tratamento contra o vício é realizado de forma multidisciplinar com acompanhamento médico especializado e familiar, psicoterapia, terapia ocupacional e holística, entre outras especialidades. É importante que além do tratamento para a dependência química, o indivíduo também tenha acompanhamento clínico para garantir a melhora de sua saúde como um todo.
Em primeiro lugar, o que é tratamento?
O tratamento da dependência de cocaína é o conjunto de medidas tomadas pela equipe médica e e demais profissionais, no sentido de ajudar o dependente a ficar e a se manter abstinente da droga. Para conseguir um real afastamento da droga pode ser necessária a internação em um hospital especializado, onde os sintomas devem ser tratados sintomaticamente.
Por que tratar a dependência da cocaína?
O indivíduo dependente de cocaína acaba por sofrer problemas em praticamente todas as esferas de sua vida: afasta-se dos amigos e da família, sofre os problemas decorrentes do uso da droga. Pode ter problemas legais (por exemplo: prisão por roubo ou por porte de drogas), não consegue manter seu emprego.
Quem se beneficia do tratamento?
O indivíduo dependente de cocaína, sua família, as pessoas com quem vive e a sociedade. O indivíduo dependente de cocaína é quem mais ganha com o tratamento.O tratamento depende da motivação do indivíduo para se tratar, da colaboração da família e da equipe que vai atendê-lo.
Quais são as razões para a procura de tratamento?
As pessoas que procuram tratamento para dependência de cocaína, em geral, são aquelas que apresentam uma série de problemas pela droga, sendo muitas vezes trazidas pela família e não admitindo o problema que têm com a droga. Esses indivíduos, com certeza, precisam de tratamento.
Como é o tratamento?
Etapa 1 Promoção de abstinência (desintoxicação)
Devido ao perigo de morte, pode ser necessário administrar-se medicamentos para diminuir a pressão arterial, diminuir a frequência cardíaca, evitar as convulsões e tratar a febre alta que costuma acompanhar o quadro clínico agudo. A abstinência da cocaína requer supervisão médica porque a pessoa pode tornar-se depressiva e mesmo suicida.
Etapa 2 Tratamento das complicações
Essa etapa ocorre ao mesmo tempo em que ocorre a primeira etapa, de promoção de abstinência.
São tratadas as complicações pelo uso da droga – por exemplo: o indivíduo dependente de cocaína pode apresentar crises de convulsão, alucinações, não conseguir dormir noites inteiras, etc. devendo receber, a depender do caso, medicação apropriada.
Etapa 3 Prevenção de recaídas
Nessa fase, o indivíduo dependente de cocaína já deve iniciar uma mudança em seu estilo de vida.
A equipe multidisciplinar, tenta abordar o indivíduo dependente e seu problema da forma mais completa possível.
A equipe multidisciplinar do Hospital Fiori é composta, além da equipe médica, por enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêutica, auxiliares de farmácia, psicólogos, terapeuta ocupacional e holístico, nutricionista, monitores, dentro outros.
Motivamos o indivíduo a manter o tratamento, abordamos problemas de sua vida (muitos deles decorrentes da droga) para ajudá-lo a planejar suas atividades, o terapeuta pode abordar problemas familiares decorrentes da droga. Há em cada uma dessas áreas, uma série de técnicas que pode ser aplicada por esses profissionais, no sentido de o tratamento funcionar da melhor maneira possível.
A Reabilitação é o resultado de todos os esforços combinados, em que o indivíduo dependente de cocaína passa a conduzir sua vida de outra forma, e a cocaína não mais participa.
Concluindo, a equipe multidisciplinar é importante no tratamento, que é difícil (mas não impossível!). Tudo dependerá, em essência, do indivíduo dependente de cocaína e de sua motivação para se tratar.
Dura toda a vida. O indivíduo nunca mais poderá usar cocaína, maconha, álcool e outras drogas, sob pena de voltar à sua antiga situação (muitas pessoas não devem nem querer lembrar disso). Deverá fazer uso do que aprendeu durante as outras etapas, devendo estar consciente de que nem sempre terá um médico por perto para ajudá-lo.
Como a família do dependente de cocaína pode ajudar?
A família pode ajudar complementando dados que o paciente dá ao médico, ajudando-o no cumprimento do contrato terapêutico, lembrando onde tomar sua medicação (caso use) ou envolvendo-se em grupos de orientação contra as drogas na comunidade.
Lembremos que fazer tudo isso não é nada fácil, e por isso os familiares do paciente devem receber apoio da equipe terapêutica.
Quando internar?
A internação é necessária quando:
• O indivíduo dependente de cocaína fica perigoso para si e/ou para os outros (ex: fica agressivo, tenta o suicídio);
• Apresenta problemas clínicos ou psiquiátricos graves, exigindo cuidados intensivos;
• É incapaz de parar a droga, não conseguindo fazer o tratamento em Ambulatório.
Pacientes usuários de cocaína que são incapazes de quebrar o ciclo de uso intenso beneficiam-se do tratamento hospitalar, que os afasta do ambiente no qual a droga era usada.