O crack surgiu como opção para popularizar a cocaína, pelo seu baixo custo. Para a sua produção, uma mistura de cocaína em pó (ainda não purificada) dissolvida em água e acrescida de bicarbonato de sódio (ou amônia) é aquecida. O aquecimento separa a parte sólida da líquida. Após a parte sólida secar, é cortada em forma de pedras. Por não passar pelo processo final de refinamento pelo qual passa a cocaína, o crack, possui uma grande quantidade de resíduos das substâncias utilizadas durante todo o processo.
Prontas para o consumo, as pedras podem ser fumadas com a utilização de cachimbos, geralmente improvisados. Ao serem acesas, as pedras emitem um som, daí a origem do nome “crack”. Os efeitos são imediatos (5 segundos), muito intensos (cerca de 10 vezes mais do que a cocaína) e muito rápidos (cerca de 4 minutos).
Entre os usuários de crack, o padrão compulsivo é o mais recorrente, com duração de vários dias consecutivos e múltiplos episódios, intercalados, muitas vezes, por crimes devido à falta de dinheiro para comprar mais droga. O usuário se esgota físico e psiquicamente, deixando de lado os cuidados básicos à saúde: alimentação, sono e procedimentos de higiene pessoal.
Agressões entre pais e filhos, roubos e prostituição para financiar o vício, entre outros episódios de violência, são relatos comuns onde há dependentes de crack.
Ao mesmo tempo, sem contar com locais adequados para o tratamento, a família e os usuários sentem-se impotentes diante da droga.
PERFIL DOS USUÁRIOS DE CRACK
O uso vem sendo observado em idades cada vez mais precoces, alastrando-se pelo País e em todas as classes sociais. Hoje, o crack chega à quase totalidade dos municípios e à zona rural. Trata-se de uma droga de fácil obtenção, cujo consumo em geral é precedido pelo consumo de álcool e/ou cigarro.
O consumo é mais prevalente entre jovens e adultos jovens do sexo masculino. O primeiro episódio de consumo acontece durante a adolescência. Tal fenômeno parece ser mais provável dentro de contextos marcados pelo abandono escolar, falta às aulas, relacionamento ruim com os pais e/ou pais permissíveis ao uso, pais separados, presença de maus tratos, ausência de prática religiosa.
Habitualmente, o usuário de crack é poliusuário ou tem antecedente de consumo de outras substâncias. O início do uso se dá com drogas lícitas (tabaco e álcool), geralmente em idade precoce e de modo pesado. A maconha costuma ser a primeira droga ilícita.
A presença de um segundo diagnóstico psiquiátrico é comum entre os usuários de cocaína e crack. A depressão e os transtornos ansiosos são as comorbidades psiquiátricas mais observadas em estudos brasileiros com esses usuários.
A infecção pelo HIV e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis é um aspecto relevante do consumo de cocaína e crack. Tendo em vista que o consumo da substância é responsável pelo aumento do risco dessas infecções, seja pelo número elevado de parceiros e sexo sem proteção, seja pela troca de sexo por crack ou por dinheiro para comprar a substância. Somado a isso, há o compartilhamento dos acessórios para o uso da droga, o que pode predispor a situações como contaminações por tuberculose ou hepatites.
EFEITOS DO CRACK
O consumo dessa droga produz uma sensação de aumento da energia, de bem estar e euforia, com aumento do estado de alerta, insônia e da sensação de fadiga. Frequentemente, observa-se uma sensação aguda e intensa de felicidade. Tais efeitos desejados e reforçadores do consumo duram poucos minutos e costumam ser seguidos por sintomas de fadiga, irritabilidade, sempre acompanhados pelo desejo de consumir a droga novamente (fissura). A falta de apetite comum nos usuários. Um dependente de crack pode perder entre 8 e 10 kg em um único mês.
Principais complicações clínicas associadas ao consumo de crack:
Hipertensão
Arritmias cardíacas
Síndrome coronariana aguda (Angina)
Infarto agudo do miocárdio (IAM)
Cardiomiopatias
Dissecção ou ruptura de aorta
Broncopneumonias
Hemorragia pulmonar
Edema pulmonar
Pneumotórax
Asma
Bronquite
Bronquiolite obliterante
Depósito de resíduos
Corpo estranho
Lesões térmicas
Hemorragia pulmonar difusa
“Pulmão de crack”
Hipertensão pulmonar e Infarto pulmonar
Dores de cabeça
Convulsões
Acidente vascular cerebral
Hemorragia intracraniana
Hemorragia subaracnoidea
Insuficiência renal aguda
Hipertermia
Hipoglicemia
Ácidos e láctica
Hipocalemia
Hipercalemia
Isquemia intestinal
Úlcera gástrica
Inflamações no intestino
Queimaduras de nariz, orofaringe,
septo nasal
Necrose de septo nasal
Rinite
Sinusite
Laringite
AIDS
Hepatite B e C
Gravidez de alto risco
Lactação
(má formação, prematuridade, baixo peso, descolamento de placenta)
(indicada suspensão da lactação)
TRATAMENTO DEPENDÊNCIA DE CRACKA internação do usuário de crack muitas vezes deve ser imediata a fim de garantir a segurança do paciente e estabilização do quadro clínico e psíquico.
O Projeto do Hospital Fiori para o tratamento da dependência química de crack consiste no plano de tratamento desenvolvido pela equipe adaptado às necessidades individuais e atuais do usuário.
Corresponde a um conjunto de metas e intervenções planejadas objetivando melhorar o funcionamento psicossocial e reabilitação do paciente.